Retrospectiva

Parece que esse ano o blog tomou vertentes diferentes do que no ano passado, né? Coisa de inspiração mesmo. Fica difícil escrever só crônicas quando por dentro da gente existem inúmeras outras coisas para observar e passar adiante e peço desculpas por ter desviado um pouco desse caminho este ano. 
Levando pro lado pessoal como no ano passado: muita coisa aconteceu e muitas fases passaram, deixando outras tomarem seu lugar. Realmente, eu amadureci demais. Acho que todo mundo amadurece alguma porcentagem de um ano para o outro, muita coisa mudou na minha cabeça. Isso me leva a pensar que, francamente, nada é pra sempre. O que dói agora, amanhã passa e o que é bom hoje, amanhã fica ruim. 
Realizei um mega sonho, né? Todo mundo sabe. Fiz muitas novas amizades e desfiz algumas que não fazem muita falta mesmo. Olha, eu caí e levantei tanto, que nem dói tanto assim. 
Olhando para trás, não me arrependo de nada, me arrependo do que eu deixei de falar ou fazer, mas eu aprendi a me virar sozinha e a arriscar mais e isso já vale muito. 
Parece que todo ano eu falo isso, mas 2012 foi incrível, tomara que 2013 seja melhor, né? Pra todo mundo. E que venha faculdade, trabalho, farra, mais amigos... Que venha mais sucesso pro "Crônicas de Dudasn"!! Afinal, a gente tá arrebentando com quase 16000 acessos. 

Atenciosamente, 

Maria Eduarda Nascimento

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Monólogo


Seria possível você não saber absolutamente nada de alguém que você julgava saber tudo?
E por que às vezes parece que não era pra dar certo mesmo?
É assim quando a gente começa a se conformar?
Bom, muito bom. 


Maria Eduarda Nascimento

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O poço


Com uma gigantesca caixa em mãos olhei para o fundo. Abri. Rasguei e lancei os textos e as conversas; enchi minhas mãos com as músicas e as soltei; as fotos foram as terceiras a cair, depois as seguiram o ressentimento, a raiva e custei, mas lancei a uma grande parte da dor. Ainda restavam a aliança, a carta, a medalhinha, as lembranças e o perdão. Os quatro primeiros, eu achei melhor manter bem fechados, para não precisar, nem conseguir, vê-los.  O perdão, eu guardei no bolso da calça, para um dia conseguir usar.

Olhei mais uma vez para o fundo do poço, me despedi daquelas coisas que boiavam e me senti agradecida por não tê-las acompanhado. Coloquei a caixa debaixo do braço e fui andando na direção dos amigos que me esperavam. A joguei no porta-malas, respirei fundo, sorri e me senti segura para seguir.

Maria Eduarda Nascimento

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Nostalgia


Foi triste passar pela porteira e não conseguir encontrar tijolo sobre tijolo. Não consegui distinguir a sala, meu quarto, a cozinha. Aquelas vezes em que eu não conseguia assistir os filmes que meus irmãos estavam assistindo, por medo. Ou quando mudava os ridículos desenhos japoneses deles pelos Teletubbies. Quando nos juntávamos todos na sala para assistir as fitas que minha mãe havia alugado, enquanto ela cozinhava ou dava um pulo na casa da vó.
O campinho que eles brincavam todos os dias ainda está lá, mas a varanda em que eu assistia, querendo participar da brincadeira, não. A vala em que eu caí aprendendo andar de bicicleta está, mas o quartinho em que eu a guardava, não.
A baia dos cavalos ao lado da nossa casa, a janela do meu quarto onde eu os via todos os dias de manhã, o gesto de acaricia-los, tudo sumiu.
 Às vezes havia morcegos no teto e um dia tinha uma cobra, mas era especial quando eu e meu irmão deitávamos no sofá em L para observa-los. Era legal correr para a estante, pegar um livro e deitar naquele sofá. Quantas vezes viajei de conto em conto com os pezinhos pra cima, enquanto meus irmãos tinham saído escondido para andar a cavalo ou dar um mergulho na pedreira? 
Pareceu conveniente se mudar para cidade, deixar a casa sozinha e aparecer cada vez menos. Estávamos crescendo, evoluindo e o espaço rural não nos era mais interessante. Mas vê-la em ruínas, destruída, reativou todas as lembranças. Gerou em sentimento de culpa saber que ela passou tanto tempo reservando  o nosso passado, nos esperando, e preferimos deixá-la só, trocando tudo por milhares de reais. 
Olhando em volta agora, aquele dinheiro não valeu a pena. 

Maria Eduarda Nascimento

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Musical














Olhei para o teto. Cantava.

O mundo acaba hoje e eu estarei dançando
O mundo acaba hoje e eu estarei dançando

Uma pausa na música, um pensamento.

O mundo acaba hoje e eu não estarei dançando com você.

Hora do romance acabar.

Maria Eduarda Nascimento

(adaptação da música "Dançando" do projeto Agridoce da Pitty)

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Borrão


Com a caneta da lista de presentes de natal, enquanto ouvia meus pais discutindo o tão caro que foi mandar fazer as pequenas reformas da casa, escrevi seu nome na minha perna, o único lugar onde direcionei a minha visão. Fiquei um tempo analisando cada letra, como se buscasse nisso uma solução para o que estava acontecendo.
Não chegando a uma conclusão, continuei a escrever, como uma forma de ajuda para mim mesma, apelando para que isso ficasse como tatuagem, para que eu pudesse olhar todos os dias e lembrar e ficar orgulhosa pela escolha que fiz, para que pudesse acreditar que foi incrível, que foi o melhor para nós.
“Estou te apagando da minha vida até que você reescreva seu nome nela”. Após ler a frase várias e várias vezes, passei o dedo em cima das cinco letras do seu nome e ele enfraqueceu, virou um borrão vermelho e enfim apagou. 


Maria Eduarda Nascimento

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Crônicas da Boa vista


Enquanto tentava me esquivar da multidão o observei no meio dos pais, sentado no chão. O pai estava debruçado em materiais artesanais, assim como a mãe.  Encostada na parede havia uma rede com muitos dos acessórios já prontos. Ambos os pais tinham cabelos bagunçados, num estilo bem natural e o mesmo acontecia com as roupas. Na mão do menino tinha uma caneta com a qual tentava, como um desafio, contornar as tatuagens da mãe e depois desenhar em si mesmo. 
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Atravessei a ponte Duarte Coelho e avistei de longe livros espalhados pela calçada e umas seis figuras revirando-os em busca de um que lhes fosse interessante. Das seis pessoas, quatro faziam parte de uma família. A mãe, relativamente simples e jovem,  segurava a mão do menor que olhava os livros infantis. O outro menino , de shorts acima da cintura e óculos de lentes muito grossas, olhava para o pai e sorria demostrando uma felicidade incomum enquanto abraçava um livro velho de capa dura e com número de paginas bem significativo para alguém tão pequeno. 
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Peguei o ônibus e me sentei, abri um livro de Sherlock Holmes na primeira pagina, enquanto ouvia uma musica tão alta que fazia os dois senhores ao meu lado balançarem a cabeça no mesmo ritmo que eu. Uma mulher surgiu com um recém nascido no braço, vestido com um pijaminha verde água.  Distribuiu a todos um papel que dizia: “ me ajude a comprar comida pra minha família" , o que me fez abrir a bolsa na esperança de realmente encontrar algum dinheiro. Não encontrei. Devolvi o papel. Ela ficou triste, eu fiquei triste. Puxei o celular e escrevi sobre tudo que eu vi. 

















Maria Eduarda Nascimento

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Não estava lá

Fui afundando. O ar foi cortado, meus olhos fechando. Na minha mente tudo passava como um filme, como daquelas vezes que você está a beira da morte. Eu estava. Lembrei de você, das primeiras palavas que você me disse; me vi sorrindo, como fazia tempo que eu não sorria. Há muito tempo eu não sorria, você não estava mais lá. Depois vieram os sonhos, lembrei de tantos... lembrei de todos. Nenhum se realizou, não houve tempo. Foi num piscar de olhos que você se foi, lembrei disso também. Tudo seria diferente. Tudo ficou escuro. Faleci, mas você não estava lá. 

Maria Eduarda Nascimento

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